segunda-feira, junho 24, 2013

Flamencos Dias em que a saudade me bate... como uma janela em dia de ventos! Dias em que acordo com o barulho dos tacões, como dias de trovoasda se tratassem... dias de esperança, que teimo em acordar de um sonho esquecido, de um sono adormecido. Há dias assim, em que acordo noutros palcos, numa realidade que não existe, mas que em mim existe. Sinto como se lá estivesse, como trajada me vestisse, com as castanholas nos dedos a libertarem sons do além. Gosto de sentir-me. Assim... sozinha, num palco sem público.. sem palmas... sem "jaleos"... num palco só meu! Foto: Flamenco, Lx Texto: Eu e alguns tablados. Quando: 24 de Junho de 2013

sábado, janeiro 26, 2013

E se um dia...
E se um dia tudo fosse um faz de conta? A manhã fosse prendada com um luar e a noite com o brilho do sol… Sim, e se um dia fosse um faz de conta? Faz de conta que sou uma princesa e tu um príncipe, ou eu uma borboleta e tu um nariz? Faz de conta que és perfeito e eu como tu queres que seja, sim faz de conta que tudo é um arco iris. E se um dia tu e eu fossemos um só, apenas eu e tu, tu e eu, nós e nada mais neste mundo de faz de conta. Eu e uma parede branca, tu numa porta azul, a olharmo-nos simplesmente, a sorrir, a fazer caretas. Teria na mão a máquina que eterniza os momentos e com ela eternizava as tuas feições, os teus sentidos, o teu cheiro, a tua suavidade, o teu amor… sim, era uma máquina que também faz de conta. E se um dia esse faz de conta de prolongasse para o dia seguinte. Uma segunda parte da primeira. Faz de conta que eras um anjo e eu uma sereia, solitária que todas as noites, aquelas que eram prendadas pelo sol, era visitada pelas tuas asas, pelo teu sussurro, pelo teu desabafo. Ouvias a minha cauda a chapinhar na água, adoravas as gotas que por vezes te chovavam nas asas. Ri-as da frescura das mesmas, pequenos sorrisos que partilhavas contigo. Faz de conta que eu era a tua musa, a que te protegia do sol e te preparava para a lua. Dava-te ânimo, fazia-te feliz, simplesmente. Agora faz de conta o contrário. Tu, um rapaz de aparência rude, com uma gaiola na mão, onde eu estou com as minhas penas brancas e brilhantes. Todas as manhãs, aquelas que são banhadas pela lua, gostas de me ouvir cantar, contemplas-me com paixão e em cada nota suspiras pela próxima. Amas ouvir-me. Um dia, e faz de conta, que abres a gaiola porque te fartaste de me ouvir ou simplesmente porque me premeias com um voo livre. Sim, faz de conta que a gaiola se abre e não mais ouves o meu canto ou contemplas a minha melodia… Sim, faz de conta… ou, afinal, não. Onde: Paris, 2012 Quando: Hoje, dia 26 do primeiro de 2013 Quem: Alguém como eu

sábado, outubro 13, 2012

Saudade e tristeza
Há dias assim em que um misto de sentimento me abate, ajudado por palavras que saém da boca de quem mais gostamos. Porque somos perfeitos e nos sentimos que nem estrada esburacada? É como se arrancassem os pregos que em mim espetaram e agora mos tirassem, sem dó, deixando um buraco imenso, mas tão profundo que nele caio e não consigo sair, um poço sem uma gota de água em que tento trepar pelas suas paredes e estas me escorregam pelos dedos. Há dias assim, que são quase todos. E quando a pessoa que mais gostamos, nos tenta tirar desse poço e não consegue, provocando em nós o sentimento contrário, colocando mais musgo nas paredes do poço, cavando o buraco mais fundo. São intenções invejosas, cujo mundo só roda num sentido. Não são intenções bonitas, que me fazem abraçar, só me criam mais certezas de que quero fugir, são vontades que não são minhas, uma inveja que ignora o meu sentimento, uma atitude de outro, uma vontade alheia. Sinto que não tenho vontades, opiniões, que sou uma marioneta sem palco. Sim, uma boneca pendurada em cinco cordas, que busca um palco para se apresentar. Fazem-me actuar em palcos alheios, estranhos ao meu ser, piso que não quero pisar, chão que me afunda. Sim, porque há dias assim... que têm sido quase todos. Foto: Soledad y tristeza (by google) Quando: 13 de Outubro de 2012 Quem: Mais uma vez, eu... e só eu!

terça-feira, outubro 09, 2012

O espírito da dança
Eis uma alma que dança, um bocado de ser que expulsa o movimento e o transforma numa flor, num pedaço delicado de sol. Ela move-se como se só estivesse, não vê quem eterniza os seus movimentos, não ouve o que está para além da música. Está sozinha e apenas só, voa entre as suas nuvens, transforma a tempestade em brisa e a escuridão em dia... Sabe o que a sua alma quer, sabe o que a sua mente entende e em cada passo que dá, em cada suspiro reinventa-se e cria um novo momento que eu eternizo... Entrega-se aos olhares, ao público que a adora, às palmas que aí vêm. Entrega-se às almas que a querem receber e aos hálitos frescos dos anjos. Confia-se aos ares que a sustentam, aos braços fortes das entidades que a dominam, pensa-se só, julga-se sozinha, mas com ela está uma imensidão de desejos, centenas de vozes que lhe sussuram em puro silêncio. E ela... ela dança, como se amanhã não houvesse, esquece-se do seu poder, esquece-se do que é... e apenas dança, como se tivesse 16, como se fosse adolescente fervilhando hormonas libertinas... Ela dança. Eu vejo. Eles desejam. Onde: Pombal Quando: 06 de Outubro de 2012 Quem: Mais um suspiro meu

terça-feira, junho 19, 2012

Só e apenas isso Neste chão que Deus me deu sinto os cheiro dos passos que me encantam, sinto o fim, o descanso dos guerreiros, as gotas de suor que das faces lhes desceram até se inflitrarem num solo de pecado. Sinto. Neste chão penso que nele não deveria de estar, que o solo apenas aos fracos pertence. A mim me pertence neste dia em que jaz em mim sentimentos obscuros e sem sentido. Estou derrotada... sem sentido... sem nexo, burra, sem perceber o que sinto, sem som, só silêncio de trevas, possuída por um ódio invejável... sim, estou neste são onde os fracos estão, porque amanhã ele apenas servirá para eu pisar, dançar, pular e chorar de alegria. Hoje presto-lhe ode, dou-lhe o toque dos meus dedos, o respirar do meu corpo, amanhã nada mais isto sentirá... a alegria de viver, a felicidade de o poder pisar com a garrar que me ensinaram, como se em tablados em estivesse... sim... amanhã o sol nasce novamente, como tem nascido. Há dias li algures que Deus todos os dias nos dá uma oportunidade de mudar a nossa vida, um pequeno momento que acontece e que pode ser fundamental para a mudança... anseio descobrir o meu... Foto: Incógnito Texto: Um pouco de mim, Janete Marques Gameiro Onde: Cruz de Pau, 19 de Junho de 2012

domingo, abril 15, 2012




Há dias disseram-me baixinho, num tom que jamais esquecerei... "Quem me dera...!". Não perguntei o quê, porque sei. Também a mim o desejo é idêntico, incontrolável. Sim, quem me dera. Quem me dera poder dizer "não posso", quem me dera poder respirar de alivio, quem me dera ter umas asas tatuadas nas costas e sentir-me um anjo terreno, quem me dera ver o mar todos os dias, quem me dera o teu beijo todas as manhãs, quem me dera o canto dos pássaros, quem me dera o sol posto todas as tardes, sim, quem me dera ser o que sonhei, e não o que me fizeram ser. Quem me dera partir para longe e reunir-me com aquilo que separei, longe, bem longe, onde o sol nascente é tão mágico como o poente, onde a noite é tão quente como o dia, onde a paisagem é virgem. Quem me dera estar onde não estou, ser o que não sou, e amar o que nunca amei!

Foto: Lousã
Data: 15 de Abril de 2012
Quem: Mais uma vez, eu, Janete Marques Gameiro

sexta-feira, abril 13, 2012



Há dias assim... como os lugares! Um baralho de ramos,secos, sem verde, sujeitos ao vento frio de um Inverno tardio. Dias em que a Primavera é uma utopia e lá fora apenas umas flores resistentes ao vento, lembram a data em que a brisa sopra. A chuva é uma ameaça, o frio uma realidade, o vento um empecilho, apenas entre ramos um velho candeeiro mostra que a luz ainda se acende, mesmo de noite, com o frio a agravar, com a chuva a aparecer, de gotas finas como agulhas que espetam e dói. Há luz, há sempre uma luz, mesmo quando a escuridão é paisagem há sempre a lua que nos ilumina com o seu brilho.
Os ramos estão secos, porque é o Inverno da Primavera, mas a luz, sim esta e todas as outras que iluminam vidas, nunca se negam a acender para mostrar que mesmo entre ramos secos, mesmo entre nuvens escuras, mesmo entre cinzentos, há sempre um brilho à nossa espera... só temos que saber onde está o botão do candeeiro.

Foto: Marly le Roy, França
Quando: 13 de Abril de 2012
Quem: Eu, no fundo sou só eu, Janete Marques Gameiro