quarta-feira, dezembro 28, 2011



Pode não parecer, mas esta sou eu ao som de uma vela. Sou eu, como estou, como me transformei, isto é o que me dás, momentos à luz pura.
Estou só, neste meu mundo. Estou como escolhi estar e como me obrigaste a fazê-lo. Escrevo para me libertar, é assim que o gosto de fazer, palavrear, num muro escuro, onde apenas lê quem sabe o que ler. Tu não.
Hoje até foi um bom dia, que assim terminou à luz de uma vela, abandonada num canto qualquer, mas que esta noite é a minha mais preciosa e melhor companhia. Apagou-se há momentos, mas já arde de novo, como se fosse a primeira vez e como se entendesse o que preciso. Ela sim, sabe o que preciso e não ne falha. Tu não.
É assim que quero, que nunca me falte a luz, a minha luz, algo que me dê luz. É assim que estou, mas apenas esta vela é a minha luz, porque a que de dentro de mim deveria surgir está hoje apagada.
Não sei onde estou, nem para onde vou. Mal sei quem sou, nem o que serei. Apenas uma certeza vive em mim, o calor desta luz, que hoje e outros dias não hesita em fazer-me companhia.
Não percebes, eu também não...

À luz da vela (Casal da Mouca, Pombal)
Janete M. Gameiro

29 de Dezembro de 2011

terça-feira, dezembro 27, 2011



Apetites

Às vezes apetecia-me deixar-me levar pelos instintos que me chamam...
Às vezes gostava de saber nadar melhor para neste mar partir...
Às vezes o meu oceano é pequeno demais para a imaginação e para as palavras que recebo...
Às vezes sou imensa para os sonhos que carrego, mas por vezes são eles grandes demais para mim...
Às vezes tenho certezas, outras vezes incertezas...
Às vezes as noites são longas, os dias curtos e os momentos uns miseros segundos...
Às vezes queria ter dons... dom de voar... dom de palavrear-te... dom de não olhar para trás... dom de não saber chorar, só sorrir...
Às vezes sou um oceano de sensações, mas outras um mero rio que as transporta e as larga num mar...
Às vezes podia ser melhor para contigo...
Às vezes podias ser melhor comigo...
Às vezes podiamos ser os dois um só, um só beijo, um só abraço, um só sorriso, um só ser...
Às vezes nunca o somos, porque tu és o sol e eu a lua, vivemos em horas diferentes, temos missões distintas e apenas somos um quando um elipse se dá...
Às vezes não gosto de ser assim... mas somos...
Às vezes queria entrar em ti, parar o tempo e nadar neste oceano... sim, queria parar o tempo para ir ver...
Às vezes... eu estou aqui e tu não... sempre!

Janete M. Gameiro
Um mar de alguém...
28 de Dezembro de 2011