sábado, março 28, 2009



Ti Gracinda

Foi nesta casa que conheci o meu paraíso. Com pouco mais de um metro de altura recordo-me de aqui dormir, entre outros tantos primos, irmãos, pais e tios. A casa era pequena no seu dia-a-dia, mas quando chegavamos transformava-se numa mansão, típica das quintas africanas. Há noite o calor apertava, os grilos e ralos cantavam como se não ouvesse amanhã, anunciando mais um dia de verdadeiro Verão. O sol nascia cedo, aparecia entrando nos quartos anunciado apenas pelo cantar dos pássaros. O pequeno almoço era tomado aos poucos, entre brincadeiras e dentadas, umas horas depois já havia espaço para mais. A rua era verde, traçada por um misto de ervas e terra, cheirava a pureza, podia-se correr e cair vezes sem conta, reparando somente no final do dia o quanto esfolados estavamos.
O banho era tomado num alguidar, a água vinha do poço, e era retirada da forma mais arcaica. No final lá ficava a boiar o resultado de um dia de brincadeira.
Chegada a noite, a varanda e as conversas presenciadas pela lua e pelo céu estrelado, preparavam os sonos...
Era assim o meu paraíso. Hoje ainda lá está, diferente, com a casa a ruir e vazia. Mas outras se ergueram e o meu paraíso ganhou nova vida... gosto-te cada vez mais...

Fachada da casa da Ti Gracinda, Casal da Mouca
Agosto 2009

Janete M. Gameiro